“Alguns dizem que Maria concebeu por obra do Espírito Santo. Esses se equivocam, não sabem o que dizem. Quando alguma vez uma mulher foi concebida de uma mulher? Maria é a virgem a quem Potência alguma jamais manchou. Ela é um grande anátema para os judeus que são os apóstolos e os apostólicos. Esta virgem que nenhuma Potência violou, [... enquanto que] as Potências se contaminaram. O Senhor não [teria] dito: ‘Pai meu que estais nos céus’, se não tivesse outro pai; do contrário haveria dito simplesmente: [Pai Meu].”
Antes de seguir em frente com o documentário, é preciso que se entenda o que é verdadeiramente um Evangelho Apócrifo. Ao contrário do que muitas organizações religiosas dizem, que os apócrifos seriam “escritos não inspirados”, portanto falsos, a verdade é que os apócrifos nada mais são do que documentos que não fazem parte do cânone bíblico judaico ou cristão - atual. Segundo Maria Helena de Oliveira Tricca - a compiladora da obra “Apócrifos, os Proscritos da Bíblia” - “Muitos dos chamados textos apócrifos já fizeram parte da Bíblia, mas ao longo dos sucessivos concílios acabaram sendo eliminados.”
É preciso lembrar também que foram os padres da “Santa Igreja” quem escolheram, sempre com muita briga, quais os evangelhos que eram “divinamente inspirados” e quais não eram. A pergunta que não quer calar é quais os critérios que eles utilizavam quando faziam as suas escolhas… O Concílio mais famoso, o primeiro Concílio Ecumênico da Igreja, foi realizado em Nicéia, uma província da Anatólia, Turquia. Neste concílio ocorreu a primeira seleção de quais os evangelhos seriam os canônicos e quais seriam apócrifos. O que se dizia na época, uma das versões, é que os bispos não precisaram escolher os evangelhos, pois os evangelhos inspirados foram se depositar sobre o altar por conta própria… Enfim, não é preciso explicar que os evangelhos foram sempre retirados ou acrescentados ao Cânone oficial de acordo com as conveniências dos padres e bispos no poder, em cada época, certo? O que nos leva a concluir que o monopólio do Cristianismo está nas mãos da Igreja Católica. Mesmo as bíblias cristãs evangélicas ou de outras vertentes cristãs, nada mais são que modificações da Bíblia como escolhida pelos primeiros padres. Algumas diferenças nas traduções, alguns textos a mais ou a menos, mas no fundo, baseadas nas mesmas Escrituras selecionadas e manipuladas pelos primeiros líderes da “Santa Igreja”. Então, por isso é tão importante a leitura e o conhecimento dos Apócrifos. Por terem sido considerados “não inspirados” e por causa disso não levados à sério, estes escritos permaneceram mais “puros” e sem manipulações ao longo dos séculos.
Para se ter uma idéia, no início do Cristianismo haviam 315 evangelhos, e posteriormente foram reduzidos a 4 (!!!), no tal Concílio de Nicéia. Os que não concordavam com a redução eram chamados de ignorantes e levianos. Durante o Concílio também foram queimados 3 evangelhos. Porém, além das “escolhas” de quais os evangelhos dignos de fazerem parte do cânone e quais não, os bispos e padres também não podiam confiar 100% nos textos pois era sabido que alguns fiéis haviam modificado os textos dos Evangelhos, para que não houvessem refutações. Enfim, tudo isso sem falar que durante séculos os textos eram copiados e traduzidos sempre à mão, o que aumenta ainda mais a probabilidade de que os textos que conhecemos hoje, têm pouquíssimo a ver com os seus respectivos originais. Quem é tradutor, principalmente, sabe bem do que estou falando. É um desafio traduzir sem alterar a idéia original. É preciso muita prática e muito estudo para se traduzir o mais aproximadamente possível do original. O que na maioria das vezes não era o caso dos tradutores (oficiais ou improvisados) das escrituras… Fora que era normal traduzir da tradução da tradução! Por isso, é preciso muita cautela antes de se sair negando os apócrifos ou defendendo os canônicos como verdade fiel… O início do Cristianismo (pra não dizer praticamente todo o seu tempo) foi marcado por inúmeras controvérsias, “heresias”, e “dogmas”, que hoje não valem mais nada (do ponto de vista religioso principalmente). E a maior parte dos grandes estudiodos do Novo Testamento concorda que há no máximo 6 frases realmente ditas por Jesus, de todas as que são atribuídas a Ele nos Evangelhos!
Para ver uma lista dos evangelhos apócrifos, tanto do Velho como do Novo Testamento, assim como os de Nag Hammadi e Qumran, clique aqui.
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