Durante uma tarde, o corvo morreu nos braços da dona. Um enorme apreenção apoderou-se da feiticeira que então, teria exclamado, aterrorizada: "Acabou-se! Minha fortuna se foi e a desgraça, sem demora, deve já bater à minha porta." Nem bem dissera tais palavras e um mensageiro chegou afogueado trazendo péssimas notícias: uma fatalidade, um acidente estúpido acabava de matar todos os filhos da Senhora de Berkeley, com exceção dos dois religiosos. Foi a estes sobreviventes que ela confessou: todas as suas riquezas e boa sorte na vida deviam-se a um terrível Pacto que firmara com o próprio Diabo, em sua juventude. Ela tentou anular os efeitos futuros do pacto usando os poderes que o Diabo lhe dera para a prática do bem mas, tendo estudado magia, justamente porque buscava um meio de se salvar, percebera que não havia como desfazer o malígno contrato mas poderia tentar um ritual póstumo que impedisse Satanás de cobrar a dívida. A morte do Corvo (na verdade, um demônio) era o sinal de que o prazo do Pacto findara e logo, ela mesma encontraria a morte, ocasião combinada com Demo para a entrega do penhor prometido, seu corpo e sua alma. Para evitar tamanha desgraça, instruía os filhos sobre como proceder em suas cerimônias fúnebres a fim de tentar evitar o mal definitivo: a eternidade no Inferno! O complexo ritual consistia nas seguintes providências e práticas:
...deveriam costurar seu cadáver num couro de veado e colocá-lo num sarcófago de pedra lacrado com chumbo derretido e amarrado com correntes. Cinquenta sacerdotes deveriam rezar a missa pela sua alma enquanto outros cinquenta deveriam cantar nênias para a proteção de seu corpo. Tudo isso deveria durar três dias e três noites. Todas as instruções foram meticulosamente observadas mas ...um bando de demônios invadiu a igreja, tanto na primeira como na segunda noite. Tentaram abrir o caixão mas foram rechaçados pelos efeitos combinados dos lacre de chumbo e do culto dos sacerdotes. Na terceira noite, contudo, um "horrendo espectro, um diabo de forma gigantesca e de semblante malígno" apareceu durante os últimos ritos e, ignorando o cântico frenético, berrou que a mulher tinha de ir com ele. Uma voz feminina foi ouvida e dizia que não se podia mover, pois estava bem segura no caixão lacrado. Com um sopro o diabo varreu os sacerdotes para os lados, rompeu as correntes e abriu o sepulcro. ... então, a figura tirou a velha mulher do caixão ...
(HAINING, 1976 - p 26)
2 comentários:
gostei da estória, nunca tinha lido sobre essa feiticeira.
gostei da estória, nunca tinha lido sobre essa feiticeira.
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