sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A Prostituiçao na Idade Média


Pecado ou necessidade? Esse era o grande dilema enfrentado pelos clérigos medievais ao se colocarem na difícil tarefa de converter a Europa bárbara e romana ao cristianismo. Sob o aspecto formal, as prostitutas infringiam um dos mais importantes tabus da Igreja ao praticarem a fornicação. Por outro lado, as demandas do mundo cotidiano reiteravam, vez após vez, que o banimento da prostituição era uma missão praticamente impossível.

Uma das justificativas mais comuns a manterem a prostituição ativa girava em torno do próprio controle de pecados observados como mais graves. O uso que os homens jovens faziam dos bordéis funcionava como meio para que as mulheres respeitáveis não fossem vítimas de sedução ardilosa e estupro. No fim das contas, seria menos grave violar os limites do corpo de uma mulher que já havia caído em pecado do que desgraçar uma casta seguidora dos princípios morais da Igreja.

O próprio Santo Agostinho advertia que o banimento da prostituição seria porta de entrada para outros pecados ainda mais controversos. Entretanto, alguns clérigos não poupavam esforços para que as prostitutas abandonassem sua vida de erros através do casamento ou ingressando na própria ordenação religiosa, na qualidade de freiras. No início da Idade Média, alguns romanos reagiam à conversão religiosa das prostitutas obrigando mulheres cristãs a tomarem o lugar da convertida.

Ao falarmos sobre o desenvolvimento de tal atividade, não podemos nos esquecer que a recorrência de tal prática está diretamente ligada aos ambientes urbanos da época. Não raro, costumava-se determinar o lugar das casas de prostituição nas ruas que levavam a palavra “rosa” no nome. Em algumas regiões, a expressão “arrancar uma rosa” fazia alusão ao ato de se servir da prostituição. Outro código de distinção comum era o uso de roupas e acessórios específicos como gorros, sinos e xales.

Uma das raras exceções conhecidas sobre essa relação entre a prostituição e as cidades aparece no Reino dos Francos, mais especificamente na dinastia carolíngia, entre os séculos VIII e IX. Em alguns feudos eram construídas as chamadas “casas das mulheres”, onde as servas se prestavam a um serviço bem distante da agricultura desenvolvida nos mansos. Similar aos dias atuais, essas “prostitutas feudais” tinham carreira curta e já eram consideradas velhas ao atingirem os trinta anos de idade.

Paralelamente, observamos que os medievais se valeram das mais variadas explicações para justificarem o fenômeno da prostituição. Alguns a relacionavam com a tendência natural que alguns têm à degradação moral, outros a ligavam à questão da miséria recorrente em alguns lugares ou à própria viabilidade econômica do ato. Em alguns casos, o concubinato impunha direitos e deveres entre uma prostituta e um terceiro interessado nos seus préstimos.

No final das contas, vemos que a prostituição medieval nos revela uma esfera que extrapolava a condição moral daquele tempo. Observando os critérios, medidas e noções sobre a “mais antiga das profissões”, vemos que a Idade Média não esteve incondicionalmente presa às supostas regras de comportamento da Igreja. É, no mínimo, instigante observar o choque entre a experiência terrena e as aspirações divinas ocorridas nesse terreno do cotidiano medieval.

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